Costa e Silva havia assumido o Governo em março de 1967. Na mesma
data, entrou em vigor a Constituição que Castello Branco fizera o Congresso
aprovar, após mais algumas cassações de mandatos parlamentares. As principais
medidas dos quatro Atos Institucionais baixados até então estavam incorporadas
nessa nova Constituição: eleições indiretas, julgamento de civis pela Justiça
Militar, eliminação quase completa do direito de greve... A ditadura se
institucionalizava.
Jogador compulsivo, Costa e Silva não dispensava corridas de cavalo e
era viciado em carteado. Pelo menos era o que se dizia dele. Contava-se que nos
seus tempos de caserna vivia pendurado em dívidas de jogo. Mas, a partir de
1964, sua sorte mudara. Mesmo quando perdia, quem participava de suas rodadas
de pôquer acabava “esquecendo-se” de descontar o cheque recebido dele. Em
troca, muito empresário admitido em seu círculo íntimo fez excelentes negócios
com o governo.
Era tido como um homem obtuso, o que ele próprio ajudava a comprovar
dizendo que só lia palavras cruzadas. A partir do momento em que começou a ser
apontado como sucessor de Castello, as piadas sobre ele não pararam mais. Uma
delas: Costa e Silva teria confundido a placa “Em Obras”, mostrando-a a um
visitante estrangeiro como a mais nova estatal brasileira, a “Emobras”. Outra
dizia que “locomotiva vai para frente e apita, mas o Brasil vai de costa e
silva”.
Embora tenha sido o mais ridicularizado, Costa e Silva não foi o único
dos nossos ditadores objeto de piadas. Castello Branco, conhecido como “o
presidente sem pescoço” por seu físico atarracado e cabeça que parecia sair
direto dos ombros, protagonizava anedotas nas quais estava sempre atrapalhado
com a gravata. Circulou em Porto Alegre que, na posse de Costa e Silva, alguém
do círculo palaciano (talvez o próprio Castello) disse após a transmissão do
cargo:
– Sai um presidente sem pescoço, entra um sem cabeça.
Castello Branco morreu num acidente aéreo quatro meses após deixar o
cargo. Em Porto Alegre, fui para um bar comemorar com amigos, bebendo cachaça.
Na Zona Sul do Rio, houve festa com champanhe. Costa e Silva não demorou muito
a acompanhá-lo. Morreu em 1969, sem completar o mandato, mas dessa vez não
houve festa: o país estava mergulhado no Ato Institucional nº 5. Havíamos
perdido até o senso de humor.
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