quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O assassinato de Olavo Hanssen

Olavo Hansen, o peixe mais graúdo entre os 18 detidos no Estádio Maria Zélia naquele 1º de maio de 1970, não foi solto. Ficou no DOPS, onde foi torturado até ter os rins destruídos, morrendo oito dias após a prisão. Oficialmente, ele havia se suicidado com “ingestão do inseticida Paration”, embora o laudo da autópsia constate ferimentos pelo corpo todo, típicos das sessões de tortura.
Fiquei com um nó na garganta quando soube da morte de Olavo e repetia chorando que aquilo não podia ficar assim. Gente em melhor posição do que eu pensou da mesma forma. Duas federações e 21 sindicatos de trabalhadores telegrafaram ao general Médici protestando. Franco Montoro e Oscar Pedroso Horta denunciaram o assassinato na Tribuna da Câmara Federal. Por fim, os dois deputados levaram o caso ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, um órgão de fachada criado pela ditadura. Tudo em vão: o Conselho recusou-se a examinar a questão, apesar de todas as evidências.
Olavo foi um dos muitos presos políticos assassinados dentro da prisão. Antes e depois dele ocorreram situações até mais terríveis, como a que se deu com Eduardo Leite, o Bacuri. Preso no DOPS, certa ocasião um tira mostrou-lhe pelas grades uma nota oficial da polícia dizendo que ele havia fugido. Era o sinal claro de que sua morte já estava decidida, o que efetivamente se concretizou, mas apenas 44 dias depois.

Esse e outros assassinatos não motivaram qualquer protesto no Brasil, embora fartamente denunciadas no exterior. Olavo foi a exceção, porque ninguém que denunciasse seu suplício poderia ser acusado de “compactuar com o terrorismo”. Não adiantou. Depois dele, militantes sem envolvimento com organizações militaristas voltariam a ser trucidados, mas não houve protestos da mesma repercussão. Assim foi até o fim do governo Médici. 
As coisas só começaria a mudar a partir de 1975, quando o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, pelos torturadores do DOI-Codi, encontrou um país menos amedrontado e mais pessoas dispostas a protestar

Nenhum comentário:

Postar um comentário