quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A guerra da Maria Antônia

 A ocupação da Faculdade de Filosofia, na Rua Maria Antônia, foi até o início de outubro de 1968, três meses após ter se iniciado. Tudo acabou em um grande conflito no qual os estudantes da USP tiveram que enfrentar o CCC (Comando de Caça aos Comunistas) e pessoal da vizinha Universidade Presbiteriana Mackenzie. Foi a chamada “Guerra da Maria Antônia”, que durou dois dias. Começou com insultos aos “subversivos” da USP, rapidamente evoluiu para pedradas e tijoladas de parte a parte e, depois, coquetéis molotov e tiros.
A polícia foi chamada pela reitora do Mackenzie, Esther de Figueiredo Ferraz, mas, em vez de apartar a briga, postou-se junto à Universidade Presbiteriana, formando uma barreira de proteção, enquanto a luta continuava do outro lado da rua. Dentro do Mackenzie, os laboratórios de química ficaram abertos ao CCC, que ali se abastecia de ácido para usar na batalha. Os alunos da Filosofia recuaram: não dava para continuar a luta com o CCC protegido pela polícia e o conflito arrefeceu.
No dia seguinte a guerra recomeçou, com violência ainda maior. O CCC passou a atacar a tiros os alunos da Filosofia e uma bala atingiu o estudante José Guimarães, que morreu. Os ocupantes abandonaram a Maria Antônia e em seguida saíram em passeata, com Dirceu à frente, a camisa ensanguentada do estudante assassinado nas mãos.
Sob o olhar impassível dos policiais, o prédio da Filosofia foi parcialmente incendiado por coquetéis molotov. A faculdade, expulsa daquela rua, nunca mais voltou. Seus alunos passaram anos acomodados em barracões improvisados na Cidade Universitária.

Quanto à reitora Esther de Figueiredo Ferraz, o prêmio por ter ajudado a liquidar com aquele “antro de subversão” seria entregue três anos depois. Virou secretária de Educação do governo paulista e mais tarde ministra da Educação.

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