Havia forças poderosas, aninhadas no coração do governo,
querendo fechar de vez o regime, instaurar uma ditadura dentro da ditadura. O
que faltava era o motivo, depois que o plano terrorista do brigadeiro Burnier dera com os
burros n’água e que a prisão em massa no Congresso da UNE deixara as ruas calmas, sem passeatas.
O “motivo” foi criado a partir
de um discurso do deputado Márcio Moreira Alves, na tribuna da Câmara. Contumaz
denunciante de torturas, Moreira Alves dessa vez se excedeu, propondo algo
completamente inusitado como instrumento de luta política: uma “greve de sexo”.
Ou, mais precisamente, propôs que fosse feito um “boicote” aos militares,
dirigindo-se “às moças, às namoradas, àquelas que dançam com os cadetes e
frequentam os jovens oficiais”.
O governo pediu licença à Câmara para processar o deputado atrevido.
Esta, como era de se esperar, negou o pedido em votação dia 12 de dezembro. No
dia seguinte veio o troco, sob o nome de Ato Institucional nº 5. O Congresso
foi fechado, eliminou-se o habeas corpus
para os processados pela Lei de Segurança Nacional, reabriu-se a temporada de
cassações. Nossos bravos soldados estavam sob o grave risco de ficar sem sexo e
contra tal atentado tornavam-se necessárias as mais drásticas medidas.
Começavam aí os 10 anos de AI-5.
O fechamento total do regime foi saudado por uma parte da esquerda. As
organizações militaristas viam no AI-5 o desmascaramento do “Estado burguês”,
incapaz de se manter de pé sem truculência, incapaz de conviver até mesmo com
um arremedo de democracia. Acabam-se as ilusões restando agora apenas o recurso
às armas. Era a teoria do “quanto pior, melhor”. Foi necessário correr muito sangue
até que minha geração se convencesse de que isso era uma insanidade, de que
quanto pior, pior mesmo!
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