Vendo-se com os olhos de hoje é difícil compreender como tantas
pessoas acreditaram que João Goulart desejasse realmente implantar um regime
comunista no Brasil. Foi mais uma das tantas insanidades coletivas da época.
Mesmo sem ter as coisas tão claras assim, eu já via o absurdo da situação e um
dia apresentei a questão a meu pai. Ele não titubeou:
– Ah! Mas aí vai ser o comunismo dele. Ele é que vai ser dono de tudo!
Naquela altura da vida, morando na favela, meu pai não tinha nada a
perder. Nem por isso deixava de temer comunismo.
A grande imprensa, que desde o final de 1963
jogara-se por inteiro na campanha anti-Jango, desenvolvia raciocínios
aparentemente menos simplórios. Para não ter que explicar o paradoxo de um
presidente estancieiro, dono de 65 mil cabeças de gado, querer implantar o
comunismo no Brasil, inventara uma tal “República Sindicalista”. Jango, que
sempre tivera apoio dos sindicatos dominados pelo Partido Trabalhista
Brasileiro, o antigo PTB (e agora contava também com os do PCB), estava levando
o país para uma República Sindicalista, fosse lá o que isso quisesse dizer.
Acrescentavam-se acusações de corrupção no governo para, no fim, República
Sindicalista, comunismo e corrupção virar uma coisa só e assim serem servidas
ao público, como prato principal do cardápio conservador. Havia mais lógica na
explicação ingênua de meu pai.
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